Na semana passada, o Labi Exames lançou o Teste de Anticorpos Coronavírus (IgG e IgM) – teste rápido da ECO Diagnóstica – para as pessoas que tiveram sintomas de gripe prolongada e querem detectar a doença ou saber se já estão imunizadas. A metodologia aplicada no diagnóstico da COVID-19 é diferente dos outros laboratórios e promete mais precisão nos resultados do que os testes sorológicos realizados.
Convidamos o Dr. Octavio Fernandes, médico infectologista e vice-presidente do Labi Exames, para explicar o que significa os termos indicados no laudo da pesquisa de anticorpos anti-coronavírus IgG e IgM.
Qual o teste sorológico oferecido pelo Labi?
Oferecemos um teste sorológico com resposta em oito horas para se pesquisar anticorpos anti-coronavírus. Anticorpos são moléculas produzidas pelo nosso corpo que nos protegerem contra agentes agressores como os vírus, levando um certo tempo para serem produzidos e estarem circulantes no sangue. Anticorpos IgM são produzidos mais rápidos e estão presentes mais precocemente na infecção tendendo a desaparecer com o tempo. Anticorpos IgG são produzidos mais tardiamente e permanecem muito tempo no nosso corpo.
Quando devo fazer o teste?
No caso do coronavírus, estes anticorpos estão presentes com maior probabilidade a partir do décimo dia de sintomas.
Como interpretar o resultado?
Um teste positivo IgM anti coronavírus deve indicar que você está com uma infecção recente pelo vírus. Um teste IgG anti coronavírus positivo indica que você teve contato com o vírus quer seja recentemente ou há mais tempo.
O teste é confiável?
Estudos estão ainda sendo desenvolvidos para se determinar com precisão a sensibilidade e especificidade do teste. Estudos iniciais são promissores e mostram especificidade de 95% podendo levar a 5% de falso positivos. Entretanto a sensibilidade na detecção de IgM e IgG anti-coronavírus por volta do 10º dia da doença foi de apenas 93%, podendo-se ter 7% de falso negativos.
Dessa forma um resultado positivo ou negativo deve ser interpretado dentro destas limitações. Recomenda se que o teste seja realizado após o 10 dia do aparecimento dos sintomas para ter um resultado mais confiável. Caso o seu resultado seja negativo e tenha uma forte suspeita clínica de infecção por coronavírus, sugerimos a realização do RT PCR, pesquisa direta do vírus ou repetir a sorologia num espaço de uma semana.
De qualquer forma este resultado deve ser interpretado por um médico para que ele possa te orientar sobre a melhor forma frente a esta pandemia.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgG e apresentei sintomas da COVID-19. Estou protegido de novas infecções?
Você está potencialmente imunizado e protegido. Até agora só existem dois relatos de reinfecções no mundo e, portanto, pode-se considerar um bom padrão de proteção ter anticorpos IgG contra o novo coronavírus.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgG, mas NÃO apresentei sintomas da COVID-19. Estou protegido de novas infecções?
Você está potencialmente imunizado e protegido. Até agora só existem dois relatos de reinfecções no mundo e, portanto, pode-se considerar um bom padrão de proteção ter anticorpos IgG contra o novo coronavírus.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgG e apresentei sintomas da COVID-19. Ainda posso transmitir o vírus?
Não podemos afirmar isto com certeza. O que sabemos dos estudos epidemiológicos é que depois de 14 dias de isolamento, pacientes de quadros leves e moderados que permaneceram em casa podem ser liberados para convivência novamente. Portanto, existe uma menor chance de estarem transmitindo o vírus. Os anticorpos IgG só positivam depois de 10 a 12 dias de doença. Deve-se esperar os 14 dias do isolamento recomendado para considerar que não se está mais transmitindo o vírus.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgG, mas NÃO apresentei sintomas da COVID-19. Eu transmito o vírus?
Não podemos afirmar isto com certeza. O que sabemos dos estudos epidemiológicos é que depois de 14 dias de isolamento, pacientes de quadros leves e moderados que permaneceram em casa podem ser liberados para convivência novamente. Portanto, existe uma menor chance de estarem transmitindo o vírus. Os anticorpos IgG só positivam depois de 10 a 12 dias de doença. Deve-se esperar os 14 dias do isolamento recomendado para considerar que não se está mais transmitindo o vírus. Como você não apresentou sintomas, acreditamos que você tenha tido uma carga viral muito baixa e, agora com os anticorpos IgG, deve estar protegido e não transmitindo o vírus.
Depois de eu ter tido COVID-19 e ter anticorpos IgG, eu estou protegido?
Podemos considerar que sim. Doutra sorte teríamos muitos outros casos reincidentes na China ou países europeus. Só tivemos relato de dois casos de reinfecção – um na China e outro no Japão.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgM e apresentei sintomas da COVID-19. Estou protegido de novas infecções?
Os anticorpos IgM são produzidos antes dos anticorpos IgG (protetores em potencial). Se você está apenas com os anticorpos IgM positivo e anticorpos IgG negativo, deve permanecer aguardando a positividade dos anticorpos IgG para se sentir protegido. Nestes casos recomendamos a repetição do teste em uma semana.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgM, mas NÃO apresentei sintomas da COVID-19. Estou protegido de novas infecções?
Os anticorpos IgM são produzidos antes dos anticorpos IgG (protetores em potencial). Se você está apenas com os anticorpos IgM positivo e anticorpos IgG negativo, deve permanecer aguardando a positividade dos anticorpos IgG para se sentir protegido. Nestes casos recomendamos a repetição do teste em uma semana.
O meu teste deu “Reagente” para anticorpos IgM e apresentei sintomas da COVID-19. Ainda posso transmitir o vírus?
Não podemos afirmar, mas existe uma possibilidade maior de você ainda ser transmissor do vírus. Os anticorpos IgM são produzidos antes dos anticorpos IgG, que serão protetores em potencial e só aparecem no 10º ao 12º dia de doença. Sendo assim, você está numa fase da infecção, que acontece antes da produção de IgG. Para se considerar que não está transmitindo o vírus, é recomendado que aguarde os 14 dias de isolamento após os início dos seus sintomas. Recomendamos também a repetição do teste em uma semana para avaliar se o IgG se tornou reagente.
Um parente meu deu “Reagente” para anticorpos anti-COVID-19. Fiquei perto dele até saber que estava contaminado. O meu teste agora foi “Não Reagente”. Isso pode acontecer?
Todos os testes podem apresentar o que chamamos de falso negativos, mas temos utilizado testes com insumos da Coreia do Sul que possuem uma boa especificidade, isto é, a habilidade de identificar os verdadeiros negativos. No caso da COVID-19, alguém infectado transmite através de gotículas de secreção para aproximadamente 2,7 pessoas. Assim, não serão todos que tiveram contato que serão contaminados pela doença.
Quem contrair o vírus precisará passar pelo que denominamos de período de incubação que dura de 2 a 14 dias. Nesse período, o vírus se multiplica no organismo e, a partir de um determinado ponto, passam a aparecer os sintomas. Esse é o tempo de início da doença e os anticorpos só aparecem positivos depois do 10º ao 12º dia de doença. Nem todos possuem a mesma dinâmica de produção de anticorpos, podendo variar de indivíduo para indivíduo.
Além disso, sabe-se que a produção de anticorpos varia na COVID-19 e depende se o paciente não apresenta sintomas, tem quadros leves ou moderados ou mesmo quadros graves que requerem internação. Se você foi “Não reagente” e tem uma forte suspeita de ter se infectado pelo novo coronavírus, repita o teste num prazo de uma semana para ver se os anticorpos apareceram.
Eu apresentei sintomas da COVID-19 e meu PCR deu positivo. Quando devo testar meus anticorpos?
Você deverá aguardar de 10 a 12 dias após o aparecimento dos sintomas para ter um teste sorológico “Reagente”. Antes deste período não recomendamos a realização do teste de anticorpos, pois você poderá ter um resultado “Não reagente” pela ausência ou baixa produção de anticorpos.
Eu apresentei sintomas da COVID-19 e meu teste de PCR foi positivo. Testei meus anticorpos agora e tive um resultado “Não Reagente”. O que devo fazer?
Você deve aguardar o prazo de 5 a 7 dias para testar a presença de anticorpos novamente. A concentração de anticorpos aumenta com o passar do tempo e fica mais fácil a detecção.
Alguém da minha família deu positivo no teste de anticorpos e mais ninguém resultou positivo. Convivemos intensamente com esta pessoa e não tivemos COVID-19?
Não podemos afirmar isto. Sabemos que a infectividade do vírus não é 100% e inicialmente se considerou que a transmissão era de um caso positivo para outras 2,7 pessoas. Além disso, a transmissão ser maior ou menor depende se a pessoa e sintomática, tossindo por exemplo eliminando partículas de secreção de ambiente. Outro fator importante na transmissão e a carga viral. Pessoas com baixa carga viral tem tendência a ser menos infectantes. Por último, tem que se considerar que a produção de anticorpos e dependente de cada pessoa e muito particular afetando também os dias para um teste de anticorpos dar positivo.
Qual a precisão do teste de sorologia para coronavírus oferecido pelo Labi?
Utilizamos um teste com insumos provenientes da Coreia do Sul, que possui alta especificidade e, portanto, poucos casos de falso positivos. A sensibilidade, como em todos os testes disponíveis até o momento, tem sido menor que a desejada e portanto casos falso negativos podem ocorrer.
Eu devo usar máscara?
A orientação original era que apenas pessoas com sintomas da COVID-19 e aqueles que estavam tendo contato com os mesmos deveriam usar máscaras. Atualmente, entendemos que a recomendação que se utilize máscaras profissionais (N95) está indicada apenas para os profissionais que estão lidando diretamente com pacientes sabidamente identificados com a doença ou aqueles que potencialmente podem estar com a enfermidade. Máscaras cirúrgicas podem e devem ser utilizadas por outros profissionais em ambiente de atendimento de saúde. Na comunidade, atualmente se recomenda a utilização de máscaras de pano ou descartáveis similares para que possamos nos proteger e também proteger aos outros.
Casos positivos são contabilizados nos números oficiais?
Somos obrigar a notificar ao Governo todos os que fazem testes de COVID-19, tanto PCR quanto Anticorpos Coronavírus, incluindo aqueles que são positivos. O processo é realizado todos os dias sistemicamente.
Existe alguma validação pública do teste que o Labi utiliza?
Existe sim. A SBPC (Sociedade Brasileira de Patologias Clínicas) e a CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial) promoveram uma validação de cartões testes existentes no Brasil e o teste que utilizamos (Eco Diagnóstica) revelou 80% de sensibilidade e 100% de especificidade neste estudo sendo comparáveis aos melhores disponíveis no mercado.
Por que pessoas que tiveram muito contato com COVID-19 não contraíram a doença, nem desenvolveram anticorpos?
Há vários médicos na linha de frente que foram claramente expostos, cônjuges de alguém doente que tiveram íntimo contato mas não contraíram, e muitos outros.
Um trabalho recentemente publicado na revista Cell (Fator de Impacto de 36) me parece iluminar essa questão (https://doi.org/10.1016/j.cell.2020.05.015).
Nesse trabalho, os investigadores mostram imunidade cruzada da COVID-19 com muitos outros coronavírus (há muitos outros que circulam largamente entre nós, causando gripes comuns). Isso significa que uma pessoa seria imune (ou parcialmente imune) à COVID-19, mesmo nunca tendo sido infectado.
E por que essas pessoas apresentam dosagens de IgG e IgM negativos para COVID-19?
Para entender isso, é preciso entender que esses exames são desenhados propositalmente para identificar moléculas exclusivas da COVID-19, que não habitam outros coronavírus. Isso porque desejamos que os anticorpos dosados sejam específicos à COVID-19, e não detectem outros vírus. Acontece que a formação de anticorpos que o nosso corpo produz para se defender de um agressor não acontece necessariamente contra uma molécula apenas, mas sim a diversas moléculas (epítopos). Portanto, é possível que tenhamos imunidade à COVID-19 sem necessariamente ter o anticorpo dosado no sangue com os kits comercialmente disponíveis.
Extraído do artigo: “Importantly, we detected SARS-CoV-2−reactive CD4+ T cells in ~40-60% of unexposed individuals, suggesting cross-reactive T cell recognition between circulating ‘common cold’ coronaviruses and SARS-CoV-2.”
“T cell reactivity to SARS-CoV-2 epitopes is also detected in non-exposed individuals.”
Obviamente é importante ressaltar que não devemos assumir imunidade ao vírus, e que as medidas de barreira são importantes. Mas esse estudo é um importante tijolo na parede de conhecimento que nos guiará no retorno à normalidade.
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